Desde a emocionante passagem por Plutão em 14 de julho, a nave New Horizons tem enviado à Terra um montão de dados sobre o distante planetinha e seus nada ortodoxos satélites.
Agora a revista Science publicou os primeiros resultados científicos e as interpretações pós-passagem do sistema Plutão-Caronte, o que significa que vamos saber a real das observações da sonda.
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“Há muitos resultados que são inéditos”, me disse Alan Stern, principal investigador da missão New Horizons, via email. “É a primeira vez que os resultados foram avaliados por pares, algo crítico para a pesquisa científica.”
Ficou curioso? Aqui está uma explicação fragmentada do que a nova pesquisa revela sobre Plutão.
Plutão tem sido geologicamente ativo faz um bom tempo. Há uma série de características superficiais intrincadas lá: planícies, montanhas, ilhas glaciais. Essas paisagens foram causadas por erosão ou reciclagem crustal — que ocorre quando a crosta externa de um planeta afunda por causa de movimentos tectônicos para o seu manto.
Assim que a New Horizons começou a mandar informações, os cientistas notaram evidências de atividade geológica recente. Algumas áreas do planeta-anão, como Cthulhu Regio, são cheias de cratera enquanto outras, a exemplo da Sputnik Planu, não têm nenhuma cratera visível. Estas áreas mais planas possivelmente são moldadas por erosão e até mesmo placas tectônicas, afirmam os autores.
Muitos desses processos planetários também são observados em Caronte, o que demonstra que atividade geológica não é incomum no Cinturão de Kuiper – um enorme cinturão de planetoides e detritos que orbita em torno do sistema solar. É um bom sinal para missões que têm como alvo outros objetos do Cinturão. Mostra que esta nova fronteira do sistema solar pode estar cheia de mundos tão dinâmicos quanto os vizinhos mais próximos da Terra.
“Outros pequenos planetas do Cinturão de Kuiper como Eris, Makemake e Haumea também podem ter históricos complexos semelhantes aos de planetas terrestres como Marte”, afirmou a equipe.
Plutão tem uma das mais amplas variações de brilho no sistema solar e abriga uma paleta de cores muito variada.
Plutão é tão escuro no equador e tão iluminado no Tombaugh Regio que só se compara ao satélite Jápeto de Saturno em termos de amplitude.
Isso, diz Stern, “nos releva que a superfície possui refletividade muito distintas em diferentes pontos e que há uma gama muito maior de refletividades em Plutão do que em qualquer outro corpo do sistema solar.”
A equipe ainda não sabe bem o que causa tal variedade em Plutão. As áreas mais iluminadas sugerem a presença de gelo de metano, altamente refletivo, mas as origens de regiões mais escuras – como as do pólo norte do planeta-anão – seguem sob investigação. O mesmo vale para a desconcertante distribuição de áreas escuras e iluminadas.
Descobriu-se também que Plutão é um mundo bastante colorido graças aos depósitos de um material orgânico conhecido como tolina. “A radiação energética na atmosfera e superfície de Plutão, ricas em nitrogênio e metano, certamente criam tolinas que, mesmo em pequenas concentrações, apresentam cores que vão do amarelo ao vermelho escuro”, disse a equipe.
A pressão na superfície de Plutão é abaixo do esperado e sua atmosfera se prolonga por 150 quilômetros.
De forma nada surpreendente, a pressão na superfície de Plutão é baixa. Segundo dados obtidos pela New Horizons, chega a apenas 10 microbars, muito distantes dos 1.013.250 microbars terrestres. O valor é ainda menor do que os cientistas previam. É possível que a atmosfera de Plutão tenha perdido massa recentemente, declararam os autores. Outra hipótese é que pode ter ocorrido um erro nas técnicas empregadas para a captação dos dados.
A equipe descobriu também uma rica neblina atmosférica que se estende por 150 quilômetros acima da superfície de Plutão e conta com dois compostos – os hidrocarbonetos acetileno (C2H2) e etileno (C2H4).
Os satélites Nix e Hidra brilham muito sem motivo aparente.
As novas descobertas confirmam que Plutão não tem nenhum grande satélite além de Caronte e os menores Nix, Hidra, Estige e Cérbero. A nave ainda está processando seus closes de Estige e Cérbero, mas os estudos sobre Nix e Hidra tiveram descobertas interessantes — como o fato de serem mais iluminados do que o esperado.
A alta refletividade destes dois pequenos mundos – que possuem dezenas de quilômetros de diâmetro cada – sugere que eles contenham gelo de água relativamente limpo em suas superfícies, o que é bem impressionante de acordo com a equipe da New Horizons.
“Como superficies tão brilhantes se mantiveram em Nix e Hidra ao longo de bilhões de anos é desconcertante. Ao levar em conta a variedade de processos externos (escurecimento por radiação, transferência de material mais escuro de Caronte por meio de impactos, impactos com meteoritos do Cinturão de Kuiper etc.) fariam com que a superfície escurecesse ou avermelhasse ao longo do tempo”, destacaram os autores.
Em suma, o sistema Plutão-Caronte continua a surpreender cientistas. Cada revelação traz um novo enigma.
Perguntei a Stern se ele tinha algum palpite sobre qual mistério plutoniano seria resolvido em seguida. “Sim”, disse, “mas não posso falar disso por causa de novas notícias a serem divulgadas em breve e uma série de artigos a serem submetidos à Science“.
Ou seja: fique de olho aqui no Motherboard; logo teremos novas informações sobre o Cinturão de Kuiper.
Tradução: Thiago “Índio” Silva