Música

Um passeio pelo tecnomelody televisivo vespertino do Recife nos anos 2000

Se você foi uma criança/adolescente que viveu no Recife entre 2001 a 2009, você sabe a importância que Deny Oliveira e Nêga do Babado tiveram na consolidação do seu caráter. Mas caso você não faça noção do que eu tô falando, te dou uma dica: tecnomelody! Ainda não?! Ok, deixa eu contextualizar melhor. Durante boa parte dos anos 2000, a televisão recifense estava apinhada de programas locais, não só aqueles programas trasheira sobre assassinatos locais e causos engraçados que aconteciam nas delegacias (que eu e minha mãe amávamos, por sinal), mas também tinham os programas de música e shows de talentos, uma coisa meio Raul Gil feat. o concurso de drags do Silvio Santos.

Era impressionante, de meio dia e meia até duas da tarde você só conseguiria assistir a uma coisa na capital pernambucana: tecnobrega. Não esse tecnobrega Gaby Amarantos de hoje em dia (nada contra, aliás), mas sim aqueles relacionados a amantes e amadas, metáforas incríveis para sexo oral, Pica-Pau Maluco, obsessão infinita e muito mais. Bom né?! Eu assisti a esses programas por muito tempo enquanto me arrumava pra ir ao colégio (escondidinho, lógico, já que minha mãe tinha pavor a essa ~cultura tecnomelódica~). E como coisa boa é pra ser compartilhada, eu decidi fazer um top10 com as melhores músicas que embalaram meus almoços de pré-adolescência. Então separa 30 minutos do seu dia para ouvir essa eloquente, romântica e inapropiada seleção!

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#10

Menina Moleka – “Vendedora de Amor”

Essa aqui minha vizinha escutava _todo dia_. A gente já acordava ao som dos versos “Traíra: eu sei que sou. Bandida: eu sei que sou. Fingida: isso eu não sou” <3. Resumidamente, a letra fala sobre uma amiga que talaricou outra, e aí vira um bate-boca maravilhoso. Basicamente é a versão brasileira de “The boy is mine” da Brandy & monica.

Melhor verso: “Desculpe, eu não sabia que esse homem era seu. (…) Ele pra mim é só mais um cliente que eu iria levar pra depenar”

#9

Banda Bregueço – “A Regra”

Nossa, minha vizinha pirava nessa também! E ainda cantava junto, adicionando todo um feeling maravilhoso. Virou um hino de todo mundo. Toda vez que aquela amiga vinha dizer que a ~regra~ tava atrasada, todo mundo já começava a cantar essa belíssima canção. E essa metáfora de regra com menstruação?! <3

Melhor verso: “Quer saber, minha regra não veio. Sorria, o pai é você”

#8

Banda Gennius – “Faraó”

Esqueça todo o conceito egípcio que Katy Perry trouxe em Dark Horse. A Banda Gennius trouxe isso muito antes, em pleno 2004, no programa Tribuna Show. Coreografia, figurino e letra todos baseados na cultura egípcia.

Melhor verso: “Vai começar / Vai esquentar / Hoje eu quero e mais / Com certeza minha tenda não abaixa mais”

#7

Banda Beijo Bhom – “Rapariga é Você”

Por algum motivo, as bandas de tecnobrega eram fissuradas em falar sobre amor de amante x amor de amada. Ou todo mundo levava muito chifre ou era só uma maneira de jogar shade naquela mulher que dá em cima do seu marido. Apesar do vídeo estar todo pixelado, mesmo assim dá pra perceber a atmosfera maravilhosa dos programas de auditório: um monte de pré-adolescentes que iam de caravana do colégio + coreografias aerodinâmicas + figurinos reveladores.

Melhor verso: “Rapariga é você, mal amada. Não seja boba ele não quer você”

#6

Banda Brega.com – “Garota de Programa’

Essa pode entrar num futuro “Top Músicas de Brega sobre Garotas de Programa”. Sabe quando você é criança e você canta uma música sem nem estar entendendo nada da letra e mesmo assim fazia muito sentido pra sua vida? E aí você escuta depois de “crescido” e percebe que o tal programa não era o de televisão e que se amar no quarto escuro era algo muito mais profundo.

Melhor verso: “Liguei pra dizer que eu gostei. Liguei pra dizer que eu quero te amar. Liguei e marquei um novo encontro. No quarto escuro pra gente se amar”

#5

Banda Brega.com – “Ânsia”

Outra tendência no tecnobrega eram músicas feitas para as mulheres. Sempre tinha essas letras de ajuda praquele momento em que você tá sensível, que a TPM tá batendo, que tá sofrendo por ter perdido o seu homem. Essa é linda, e não há um recifense que não tenha postado essa música no Orkut dedicando ela ao seu maior amor.

Melhor verso: “Me abriu todas as portas do amor, me fez uma mulher realizada e me tirou todas as dúvidas do amor”

#4

Ritmo Quente – “Te Quero Tanto”

Vou pular direto pro melhor verso, porque essa música me deixa sem palavras de tão boa. Façam um favor pra vocês mesmos e coloquem essa música na playlist “As + Picantes”.

Melhor verso:“Vou te agarrar, vou te jogar na cama. Vou te deixar bem molhada. Eu vou. Sente só isso entrando é o amor. Fazer amor um dia com você vai ser show”

#3

Banda Talibã – “Me Enxuga”

O combo nome de banda + conteúdo musical dessa faixa é completamente periclitante. Nome politicamente incorreto: ✓ / Letra sexualmente inapropriada: ✓ Essa música era tão polêmica que um amigo me disse uma vez que o pai dele quase arrancou o couro da irmã só porque a coitada estava cantarolando os sensíveis versos dessa música. Nada mais normal do que uma filha de 10 anos cantando que vai tirando o sutiã, a calcinha e que se entrega por inteira, ficando toda molhadinha, não é mesmo??

Melhor verso: “Quando tocas em meu corpo, estremeço, dou gritinhos. Fico louca de tesão. Que gostoso teus carinhos”

#2

Vício Louco – “Pica-Pau Maluco”

Eu era daquelas crianças reservadas, que ficava só olhando os amigos de 12 anos já fazendo safadeza nos fundos da escola enquanto eu ainda tava assistindo Sakura Card Captors e Hamtaro. E essa música é a que mais me remete a essa diferença entre eu e eles. Era uma festa do colégio em que minha mãe trabalhava quando começou a tocar “Pica-Pau Maluco” nas alturas. Cada menino tratou de arranjar uma ~boyzinha~ (termo que usamos para chamar uma garota) e o rala e rola tecnomelódico rolou solto. Sdds.

Melhor verso: “Isso não é normal, será que é bem ou mal? Deram uma badocada [badoque = estilingue] no pobre do Pica-Pau”

#1

Nêga do Babado – “Milkshake”

É inegável dizer que Nega do Babado, cujo nome verdadeiro é Preta, é a Kelis recifense! Além de ter hits com mesmo nome, as duas possuem o mesmo swag e carisma contagiante. 10 em cada 10 recifenses amam/são essa música.

Melhor verso: “Eu gosto assim, eu gosto quando você vira e mexe, fica em cima de mim, tirando a roupa, me deixa louca”

Menções Honrosas:

Ritmo Quente – “Ingrata Solidão”

Mais uma em que 10 de 10 recifenses sabem a letra, cantam e choram. Icônica, eu diria.

Banda Metade & Michelle Melo – “Qualquer Uma”

Michelle Melo virou entidade pernambucana, quase a Britney recifense!