Um retrato honesto da gravidez na adolescência

Em 2012, a fotógrafa carioca Simone Marinho realizou um ensaio sobre gravidez na adolescência como parte de uma matéria publicada no jornal O Globo. A ideia era abordar o fato de que a gravidez precoce afasta as meninas dos estudos e, assim, reduz suas chances de inserção no mercado de trabalho no futuro, contribuindo, desse modo, para a perpetuação do ciclo de pobreza.

Os dados da época indicavam que a evasão escolar no país chegava a 10%, tendo como principal causa de evasão, no caso das meninas, a gravidez. Dados recentes apontam que este ainda é um problema a ser superado. O número de adolescentes com filhos diminuiu na última década, mas continua alto para os padrões internacionais.

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Foto: Simone Marinho

Com informações procedentes de pesquisas em mãos, a fotógrafa se aproximou de meninas que, apesar das dificuldades enfrentadas em função da gravidez, resistiam e continuavam na escola. “Procuramos as adolescentes junto a duas instituições públicas, na região central do Rio de Janeiro, que adaptaram sua rotina para impedir a evasão das estudantes, o que não é um comportamento padrão”, explica Simone.

Foto: Simone Marinho

Simone e a repórter Mariana Filgueiras conheceram Ana Cristina, de 23 anos, que abandonou a escola quando teve o primeiro filho, aos 15, e só com o segundo e o terceiro um pouco maiores conseguiu retornar. Elas conheceram também Érika, de 18 anos, grávida de sete meses, que repetia a história da avó e da mãe, que também engravidaram precocemente. Sua colega, Thais, também com 18 anos, voltou à escola depois que o filho Lucas nasceu. Acordava às 5h para se arrumar, alimentar o filho e deixá-lo com o pai, que trabalhava à noite e, durante o dia, cuidava de Lucas para que Thais pudesse estudar.

Na Rocinha, zona sul da cidade, Lidiane, com 16 anos e grávida de seis meses, só havia faltado à aula uma única vez, quando teve um enjoo muito forte, desde que descobriu a gravidez.

Foto: Simone Marinho

“Eu e a repórter sabíamos que precisávamos de tempo para conhecer as meninas e poder contar suas histórias. Conseguimos um mês para desenvolver este trabalho, uma raridade na rotina de um jornal diário”, conta Simone.

Nesse período de convívio, Simone pôde visitar a casa das meninas, as escolas onde estudavam, andar de ônibus junto com elas, compartilhando, assim, suas rotinas. Para a fotógrafa, foi um trabalho especialmente intenso, pois, na época, estava grávida de sua filha Olívia, hoje com cinco anos.

Foto: Simone Marinho

“Quis realizar este trabalho da maneira mais livre possível, sem muitos equipamentos ou parafernálias, só usei luz natural”, lembra.

A intenção de Simone, nesse ensaio, foi fotografar as relações e o entorno das adolescentes, isto é, as amigas, os namorados, a família e o dia a dia na escola, pois entendia que estes elementos constituíam a base para que as meninas se mantivessem firmes no propósito de continuarem os estudos, mesmo na situação em que se encontravam.

Foto: Simone Marinho

“Eu gosto de usar a fotografia como instrumento para comunicar aquilo que me toca. Tenho interesse especial por temas que a sociedade joga para debaixo do tapete, e que, na minha opinião, deveriam ser olhados mais atentamente”, diz Simone, que enxerga a situação da mulher como uma das grandes injustiças de nossa sociedade. Ao dividir sua existência com a de outras mulheres, por meio da fotografia, o trabalho de Simone tem o compromisso de tentar fazer pequenas transformações.

A fotógrafa é uma das fundadoras do Fotógrafas Brasileiras, um movimento que une mais de 2000 mulheres da imagem no país.

Mais do trabalho da Simone Marinho no Instagram.

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