Não é segredo que muitas inteligências artificiais (IAs) foram desenvolvidas para selecionar e decifrar o amontoado de informações do big data. O que talvez você não saiba é que, nos bastidores dessa cena tecnológica, há máquinas que usam algoritmos sofisticados para produzir arte. É o caso da criação de Hitoshi Matsubara, professora de ciências da computação da Universidade do Futuro de Hakodate, no norte do Japão, cujo romance curto co-criado com uma IA passou pela seleção inicial de uma competição literária local.
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Embora a obra deles não tenha levado o grande prêmio, a colaboração entre humanos e máquina abriu caminho para crer que, se a IA da equipe estiver mais refinada no futuro, pode resultar em projetos artísticos elaborados.
“Até o momento, os programas de IA foram utilizados para resolver problemas que têm respostas, como o Go e shogi”, afirmou Matsubara, em um relatório ao Yomiuri Shimbun. “No futuro, desejo expandir o potencial da IA para que se assemelhe à criatividade humana.”
O programa de IA recebeu a tarefa de costurar os elementos enquanto escolhia frases e palavras específicas pré-preparadas por seus chefes humanos
O romance da equipe foi submetido ao Prêmio Literário Hoshi Shinnichi, uma competição que aceita trabalhos criativos tanto de humanos quanto de máquinas. 2016 foi o primeiro ano em que recebeu candidatos de IA. Dos 1.450 romances, 11 foram escritos em parceria com programas de IA. Em nenhuma das quatro etapas de seleção, os juízes sabem quais foram escritos por humanos e quais foram compostos por humanos e IA.
Mas como funciona essa parceria? No caso de Matsubara, a equipe dela forneceu uma estrutura para o romance, isto é, escolheu o gênero dos personagens e delineou o enredo. Na fase seguinte, o programa de IA recebeu a tarefa de costurar os elementos enquanto escolhia frases e palavras específicas pré-preparadas por seus chefes humanos.
O livro, intitulado O dia que em um computador escreveu um livro (Konpyuta ga shosetsu wo kaku hi) é, em sua essência, narrado da perspectiva subjetiva de uma IA que se torna ciente de seu talento como escritora e abandona suas tarefas iniciais de servir aos humanos.
De acordo com Satoshi Hase, escritor de ficção científica, o romance de Matsubara é bem estruturado, porém, seus personagens não foram bem desenvolvidos.
Nos últimos anos, programas de IA ajudaram os humanos a fazer de tudo, desde criar letras de rap a produzir obras de arte. Embora a primeira tentativa de Matsubara não tenha sido consistente o suficiente para garantir um lugar no cânone literário, é bem provável que uma próxima versão seja mais convincente. A carreira literária das IAs, afinal, está só começando.
Tradução: Amanda Guizzo Zampieri