O que a juventude periférica diz sobre a guerra às drogas
Franco Nascimento, 26 anos: "Ao mesmo tempo que sou favorável a uma legalização, acho que pode prejudicar jovens da periferia". Todas as fotos da autora 

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Drogas

O que a juventude periférica diz sobre a guerra às drogas

Eles falam o que pensam sobre a política de drogas, o termo guerra em voga no Rio e a legalização de substâncias proibidas no Brasil.

Acostumados desde cedo a uma realidade que envolve violentas incursões policiais em suas comunidades, os jovens que vivem nas periferias brasileiras não querem ser vistos apenas como vítimas. Ou alvos. Por isso, durante um ano, com o apoio do Centro de Estudo em Segurança e Cidadania (Cesec), o grupo discutiu em encontros e se organizou no Movimentos, a princípio com gente do Rio e da Bahia. O primeiro resultado do trabalho é uma cartilha, disponível aqui. Para eles, é impossível pensar em uma forma de resolver o problema sem ouvi-los sobre o impacto das políticas de segurança no cotidiano.

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No último sábado (2), no Centro de Artes da Maré, no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, o projeto foi lançado com uma roda de debates. E ficou frisado que o racismo está totalmente ligado à guerra às drogas: "O racismo é sistêmico. É elemento estruturante que nega direitos. É bom ver jovens que sofrem na pele e entendem que o emponderamento é coletivo", disse Djamila Ribeiro. A filosofa participou do evento que teve ainda a presença da jornalista Flávia Oliveira e o professor Douglas Belchior.

A VICE ouviu alguns dos jovens que estavam por lá para entender o que eles pensam sobre a política de drogas, o termo guerra em voga no Rio e o que acham do processo de legalização de substâncias proibidas.

Foto: Bibiana Maia

Aristênio Gomes (Movimentos), 26 anos, professor, morador da Maré, no Rio

"Acho que a legalização é o caminho, mas temos que ver como vai ser o pós de quem sempre viveu desse mercado. Vamos inserir essas pessoas, dar anistia, ou este mercado vai para os homens brancos?"

Foto: Bibiana Maia

MC Martina (Movimentos), 19 anos, moradora do Complexo do Alemão, no Rio

"Eu acho que esta guerra é uma farsa, porque existe uma segregação muito grande. É uma guerra aos pobres e pretos, porque tem drogas em todo lugar. A política é focada na segurança pública, mas o tema é muito grande e tem que estar em todo lugar."

Foto: Bibiana Maia

Ricardo Fernandes (Movimentos), 28 anos, ator, morador da Cidade de Deus, no Rio

"A juventude está fazendo um debate pela dor e o sangue, mas tudo tende a mudar por esse abraço do assunto que não era para nós. A gente quer colocar o jovem na discussão não como ouvinte ou vítima."

Foto: Bibiana Maia

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Pamela Souzza (Movimentos), 28 anos, estudante de pedagogia, moradora do Jacaré, no Rio

"É uma política seletiva. Não se discute efetivamente, só a questão da segurança pública, mas parte da cidade recebe esta política com segurança e outra com o fuzil."

Foto: Bibiana Maia

Enderson Araujo (Movimentos), 25 anos, midiativista, morador de Suassurana, em Salvador

"Em todo Brasil, a polícia atua igual. Entra com discurso para combate, mas mata preto e pobre. Promove isso com essa narrativa reforçada pela mídia como se houvesse combate. A verdade é que existe um grande varejo, como em áreas nobres, mas com uma incursão diferente."

Foto: Bibiana Maia

Thainã de Medeiros, 34 anos, museólogo e jornalista, morador da Vila Cruzeiro, Rio

"As drogas estão aí na história da humanidade, não faz sentido regular uma e proibir outra. Alguns grupos não fazem essa discussão a partir do genocídio, e queremos falar a partir do direito à vida."

Foto: Bibiana Maia

Thais de Jesus, 27 anos, coordenadora de projetos, moradora da Maré, no Rio

"A gente precisa se inteirar e participar deste debate. Penso também se o país está preparado para uma legalização. Tem que entender o problema e se educar conversando mais e debatendo."

Foto: Bibiana Maia

Franco Nascimento, 26 anos, mestrando em sociologia política, morador da Cruzada São Sebastião, no Rio

"Ao mesmo tempo que sou favorável a uma legalização, acho que pode prejudicar jovens da periferia que não conseguem lidar com a dependência e na falta de poder consumir. Temos que debater sobre isso."

Foto: Bibiana Maia

Taislene Santos de Aquino, 19 anos, estudante, moradora da Vila da Penha, no Rio

"O governo poderia legalizar e elevar o preço [das drogas], por exemplo. Lá fora já existe o uso para fim medicinal [da maconha] e acho que a gente poderia seguir este modelo."

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