Uma garota descobriu sua soropositividade aos 10 anos e cresceu com dificuldade de tomar a medicação para o controle do HIV. Ela chegou a receber acompanhamento de uma psicóloga, mas, ainda assim, não conseguia seguir com os remédios.
Na faculdade, não tinha ânimo. Sentia-se sem perspectiva. Dizia que os medicamentos a faziam lembrar de todo o preconceito que tinha sofrido. Até o dia em que resolveu participar de uma das reuniões do Viver Jovem, programa do Grupo de Incentivo à Vida (GIV).
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Foi quando a relação da nossa personagem com o tratamento mudou. “As outras pessoas soropositivas da rede não a julgaram, foram compreensivas, fizeram um grupo de WhatsApp para ajudá-la a se medicar corretamente.
Neste mês, ela me contou que o vírus se tornou indetectável e que ela está terminando a faculdade”, lembra Andrea Ferrara, coordenadora do Viver Jovem. Essa é apenas uma das tantas histórias que se passam pelo Brasil, em grupos de apoio a jovens com HIV/AIDS. Além da preocupação com a saúde física, Andrea me diz que “a pior coisa do HIV é o preconceito”.
Eduardo Barbosa, coordenador geral do grupo Pela Vidda São Paulo e gerente do Centro de Referência da Diversidade (CRD), concorda e reforça que o estigma ainda é muito grande. “Isso faz com que muita gente fique totalmente fragilizada, em depressão, em negação da doença e do tratamento.” Por isso, ele ressalta a importância dos grupos de apoio, considerando que, nesses espaços, “as pessoas ganham referencial e encontram outros indivíduos na mesma situação. E, ao compartilhar experiências, conseguem se reorganizar”, justifica.
Claro que o primeiro passo após o diagnóstico é buscar ajuda médica. “A descoberta é impactante, mas eu sempre digo: ‘nós vamos tratar’”, pontua a Dra. Renata Wanderley, infectologista do Hospital Samaritano (RJ). “Além do direcionamento médico, sempre indico o acompanhamento psicológico para lidar com questões e emoções que surgem nesse momento. Uma das mais recorrentes no consultório é: ‘Para quem eu preciso contar?’ A resposta é que um paciente só precisa falar sobre o assunto com quem é capaz de ajudá-lo”, conclui a especialista.
Os grupos de fortalecimento costumam ser fechados para pessoa soropositivas. “São espaços seguros de troca”, destaca Andrea. “Recentemente, recebemos um rapaz que descobriu a soropositividade aos 19 e, até agora, aos 23, não conhecia outras pessoas na mesma condição. Ao ser inserido no grupo, ele ficou encantado, encontrou uma nova perspectiva”, lembra.
O fortalecimento psicossocial é fundamental, inclusive, para aumentar as chances de adesão ao tratamento. O motivo é simples: quanto antes o paciente adotar um comportamento favorável ao próprio bem-estar, mais rápido ele iniciará o uso dos remédios, a fim de reduzir sua carga viral a um nível indetectável.
Isso não só permite controlar a doença, como minimiza o risco de transmissão. “Indetectável é praticamente igual a intransmissível”, explica Eduardo. “Eu costumo dizer que é mais seguro ter relação (sexual) com alguém nessa condição do que com uma pessoa que nunca fez o teste”, opina.
Para combater o preconceito e ter forças para seguir o tratamento, é importante se cercar de pessoas aptas a dar suporte psicossocial. No Brasil, há redes de apoio a jovens portadores do HIV em todos os estados. Como requisito para ingressar, é preciso ter entre 15 e 29 anos e viver com HIV/AIDS. Para encontrar o mais próximo da sua casa, entre em contato com a Rede de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/AIDS.
Para saber mais, acesse: Rede Nacional de Pessoas com HIV/AIDS
Rede Nacional de Jovens e Adolescentes Vivendo com HIV/AIDS
Movimento Nacional de Cidadãs Posithivas
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