Antes que Esú chegasse às ruas, Bluesman já era uma realidade. Ao menos na cabeça do rapper Baco Exu do Blues, que desde que se nomeou com o "primeiro ritmo a tornar pretos ricos", já sonhava em fazer um álbum que levasse o blues como tema principal. O sonho se torna realidade nessa sexta (23), na forma das nove faixas e 30 minutos do segundo álbum do artista soteropolitano, que chega dois anos depois de seu estouro meteórico com a tão – e, mesmo assim, ainda pouco – falada "Sulicídio".
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"A ideia inicial era ter um disco de blues sem tocar blues. Eu fui pegando pelo sentimento, internalizei muito os discos de blues que eu mais gostava e esperava sentir o que eles estavam tentando passar com a música", fala Baco em entrevista ao Noisey na última quinta-feira (22). "Cada álbum eu ia sentindo uma parada diferente e meio que associei que o blues tem quatro sentimentos primários. Esses sentimentos foram o ponto de partida de Bluesman, o que usei pra classificar ele como blues."Os quatro sentimentos cavados por Baco — o amor, a perda, a dor e a conquista — estão condensados nas músicas de Bluesman, que parece muito mais sentimental e recheado de love songs do que foi Esú — cuja única representante, "Te Amo Disgraça", se tornou a música mais conhecida do rapper. "Eu não podia fazer um álbum chamado Bluesman e deixar os sentimentos de fora", pondera Baco. "E eu digo sentimento de diversas formas: algumas pessoas podem ouvir só como love songs, mas as love songs desse disco têm contextos sociais que são bem brutais. Se você olhar, elas são bem mais sobre a fragilidade do homem negro do que sobre o amor de fato."
Para dar vazão a esses sentimentos, Baco decidiu recrutar ajuda das vozes que ele acredita que melhor sabiam passar a dor: Tim Bernardes, as cantoras Bibi Caetano e 1LUM3 e o trio paranaense Tuyo foram os convidados. "Eles têm as vozes certas para rasgar como o blues rasga", explica o rapper.
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Dois anos de "Sulicídio", um ano após deixar a Bahia e se mudar para São Paulo definitivamente, Baco acredita que a situação do rap no nordeste ainda não mudou tanto quanto poderia. Ele diz, porém, que sua presença é sentida de forma polarizada pelo ecossistema do rap na região. "Tem muita gente que acha que eu fiz muito pouco, tem gente que acha que eu fiz muito. Mas acho que com todo músico é assim, ainda mais quando você começa — não que eu tenha começado nada, mas alcancei uma coisa que historicamente não tinha sido alcançada antes naquele lugar", opina.Mas apesar das expectativas externas sobre sua arte e pessoa — discutidas extensamente em Esú, principalmente em canções como "En Tu Mira" — Bluesman lida muito mais com as expectativas pessoais do artista sobre si mesmo. O sentimento de incompreensão e cobrança é tema recorrente e aparece em faixas como "Minotauro de Borges" e "Me Desculpa Jay-Z". Durante a entrevista, Baco explicou um pouco mais sobre cada uma das inspirações e referências que o levaram a Bluesman. Ouça o disco e acompanhe abaixo.
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