Lioness, um vibrador inteligente, pode medir as contrações vaginais de uma mulher (com sensores que medem a tensão na vagina) e mostrar o orgasmo dela num gráfico. A empresa recentemente divulgou um estudo informal dos “orgasmos canábicos” das usuárias. Muitas participantes experimentaram orgasmos diferentes depois de fumar maconha – e, às vezes, as medições refletiam esses relatos.
“Meus orgasmos pareciam mais longos e me surpreenderam com suas intensidades variadas”, diz a CEO da Lioness Liz Klinger sobre se masturbar depois de consumir um produto comestível de maconha. “Meus orgasmos geralmente são como uma onda consistente. Minhas contrações vaginais foram bem menos regulares e, em vez das minhas contrações enfraquecerem com o tempo, elas continuaram fortes até o final.”
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Analisando o gráfico de Klinger, você vê que o orgasmo sob a influência do comestível (o mais à direita) tem contrações maiores e menos regulares do que o clímax sóbrio (esquerda), e não diminuíram no final.
Maggie, uma desenvolvedora de software de 25 anos de Oakland, Califórnia, que preferiu não usar seu sobrenome também experimentou orgasmos mais intensos sob efeito da maconha, que corresponderam a contrações vaginais mais fortes medidas pelo Lioness.
“Geralmente, chapar deixa meu corpo e mente mais reativos a estímulos”, explica Maggie. “Um cobertor macio parece mais macio, a comida parece mais gostosa, minhas comédias preferidas são mais engraçadas, etc. Então, pelo menos para mim, não foi surpresa ver que meu assoalho pélvico ficou muito mais reativo.”
Liz e Maggie dizem que seus orgasmos foram intensificados pela maconha e que essa percepção é comum. Num estudo ainda não publicado, Becky Kaufman Lynn, diretora do Centro de Saúde Sexual e professora de obstetrícia e ginecologia da Universidade de Saint Louis, nos EUA, descobriu que 53% das mulheres relatam orgasmos melhores depois de fumar um beck. Aquelas que fumam antes do sexo têm duas vezes mais chance de dizer que tiveram um orgasmo satisfatório durante a atividade sexual.
Não entendemos exatamente o motivo disso, mas uma possibilidade é que os canabinoides estejam envolvidos no processo neurológico do orgasmo. “Há pesquisas recentes mostrando que o orgasmo libera canabinoides endógenos – que ocorrem naturalmente no corpo humano independente do uso de cannabis”, diz Matthew Johnson, professor de psiquiatria e ciências comportamentais na Universidade Johns Hopkins. Um estudo do Journal of Sexual Medicine descobriu que homens e mulheres têm níveis maiores do endocanabinoide 2-AG no sangue depois de se masturbar.
Muitas pessoas também relatam orgasmos mais duradouros quando chapadas. No entanto, isso provavelmente não é porque o orgasmos é mais longo. É mais provável que a maconha faça o clímax parecer estar acontecendo em câmera lenta. “Cannabis deixa o tempo mais lento para qualquer evento, não só o sexo”, diz Mitch Earleywine, professor de psicologia da Universidade do Estado de Nova York em Albany e autor de Understanding Marijuana. “Um comercial de TV parece mais longo também, por exemplo.” E segundo Maggie em Liz, elas também acharam que seus orgasmos canábicos eram mais longos que o normal, mas o aplicativo do Lioness mostrou que a duração era a normal.
Outro ponto positivo do sexo canábico é o aumento do desejo. Um estudo do Journal of Sexual Medicine descobriu que americanos que usaram maconha no último ano fizeram 20% mais sexo. Apesar de não ficar claro nesse estudo se era a maconha que estava causando um maior desejo sexual, os participantes da pesquisa de Lynn relataram maior desejo depois de usar maconha.
O THC afeta a área do tálamo do cérebro, envolvida no desejo sexual, além de com os vasos sanguíneos que controlam a excitação, diz Jordan Tishler, presidente do InhaleMD e da Association of Cannabis Specialists. O THC também afeta o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, que controla a testosterona (que, por sua vez, afeta sua excitação sexual), me disse Lynn.
Alguns efeitos da maconha na vida sexual das pessoas é menos direto. Por exemplo, muitos dizem que o sexo canábico é diferente porque a droga faz a pessoa se sentir mais presente. “Quando estou chapada, estou muito mais ‘no momento’ do que quando sóbria, o que acaba me deixando mais sensível e reativa a estímulos”, diz Anna Lee, chefe de engenharia da Lioness. “Normalmente, quando estou sóbria, gosto de mudar as vibrações durante a sessão, mas quando estou chapada, mantenho na vibração mais baixa.”
Os homens também sentiram a diferença. “Se masturbar ou transar chapado é uma das sensações mais libertadoras do corpo humano”, diz Victor Escobar, 27 anos, um artista do Brooklyn. “Fico mais excitado quando fumo maconha, e gozar chapado é uma das experiências mais memoráveis. É como fazer sexo com ou sem camisinha: uma coisa é simplesmente melhor que a outra.”
Essa sensação de estar mais presente pode vir da inibição do THC do córtex pré-frontal e hipocampo, que estão envolvidos na memória, especialmente memória emocional, diz Tishler. (A maioria dos efeitos sexuais da maconha vêm do THC, ele explica, e o gráfico de orgasmo de uma usuária de canabidiol com o Lioness parecia indistinguível dos gráficos de seus orgasmos quando sóbria.) Esse efeito, combinado com o efeito antiansiedade da maconha na amídala, pode até ajudar sobreviventes de trauma sexual a se sentirem mais confortáveis durante o sexo, acrescenta Tishler. Para outros, o relaxamento induzido pela maconha pode reduzir ansiedade de performance.
Os efeitos relaxantes da maconha ajudam muitas pessoas a tomar uma rota mais cenográfica para o orgasmo. “Quando me masturbo sem maconha no sistema, meu método geralmente é cirúrgico: entrar, sair e tirar o paciente da maca o mais rápido possível”, diz Daniel Saynt, um empreendedor de 35 anos do Brooklyn. “Geralmente procuro cenas específicas para acabar rápido. Mas com maconha, a experiência é um pouco mais relaxante.”
Saynt diz que fumar maconha antes do sexo o deixa mais aberto a coisas novas – ou, pelo menos, a imaginar coisas novas. “Tenho mais chance de clicar em ‘Estou com Sorte’ na busca do PornMD. Descubro novos vídeos que nem pensaria em procurar. Há mais chance de passar mais tempo me masturbando, prestando atenção nos movimentos, experimentando novas posições com a mão, ou incorporando brinquedos para atingir o orgasmo. É mais uma questão de descoberta.”
Mas nem tudo é diversão para todo mundo. A cannabis pode causar o ressecamento de membranas mucosas, o que pode levar a uma falta de lubrificação vaginal, diz Earleywine, apesar das participantes da pesquisa de Lynn não terem relatado efeitos nessa questão. Homens que consomem maconha demais podem sofrer de um declínio na ereção, diz Tishler. E outro estudo do Journal of Sexual Medicine descobriu que homens que fumam maconha diariamente podem experimentar incapacidade de alcançar o orgasmo, gozar rápido demais ou atingir o orgasmo muito lentamente comparado com pessoas que nunca fumaram. Então, como tudo na vida, moderação é a chave.
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