Música

​O rap comenta a importância dos 10 anos de Batalha do Santa Cruz​​

Saindo da estação Santa Cruz pra direita você cai num Shopping de passagem, desses que se aproveitam do Terminal de ônibus e do metrô para fisgar seus clientes. Loja de surfe, agência de viagens, Casas Bahia e outros cacarecos disputam a atenção no térreo. O sábado a noite reúne aquela molecada cheia de xaveco que vai colar no cinema, comer um burguer, dar pinta com sua camiseta da Abercrombie novinha. Agora ouse sair do metrô pro lado esquerdo. Ouse.

Na escada rolante que dá acesso à Avenida Domingos de Morais uma molecada também se junta. Dependendo do dia, mal dá pra sair da estação sem esbarrar num boné de aba reta. Eles se amontoam em roda e se atracam nas rimas, nas ideias, no debate. É a Batalha do Santa Cruz, um dos berços mais importantes do rap de improviso em São Paulo.

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A regra é simples: O primeiro MC tem 30 segundos para soltar as punch lines, o adversário responde no mesmo tempo e o público elege o vencedor do primeiro round. Segundo round começa com quem terminou o primeiro. Em caso de empate rola um par ou ímpar pra ver quem começa e mais 30 segundos pra cada um. A plateia decide quem ganha.

Descubra.

Neste punhado de terra já reinaram nomes como Emicida, Rashid, Marcello Gugu, Projota, Bitrinho, Flow MC, Bivolt e mais uma pá de gente. Aproveitando que nesta sexta-feira (30), o Noisey e a VICE Brasil apresentam um mini documentário em 360° da Batalha do Santa do Cruz (apresentado pela Bárbara Bivolt, inclusive), fomos atrás das figuras históricas da cena do Santa e eles nos falaram bastante emocionados sobre a importância da Batalha para a carreira deles, e para o rap no geral. 1 2 3 SANGUEE:

Emicida

A Batalha da Santa cruz foi como uma São Bento da geração pré-millennial, esse povo que nasceu nos 45 do segundo tempo do século 20. A Olido teve um papel importante, fundamental eu diria, e até responsável pelo nascimento da Santa Cruz. O que Kamau e a Central Acústica fizeram plantou muitas sementes, e uma das que deram frutos foi exatamente a Batalha do Santa Cruz. Ali naquela estação de metrô não havia regras: era batalha de sangue na capela, vez ou outra um beat box ou uma palma. A ausência total de estrutura fez que quem tivesse potencial pra parada se esforçasse pra lapidar sua lírica naquele ambiente. Se você for analisar,  tanto eu quanto Marcello Gugu e Rashid, que éramos assíduos todos os finais de semana, temos um padrão de construção com exigências semelhantes, com nossas diferenças artísticas, obviamente, mas todos moldados dentro do mesmo contexto em que uma frase salva uma vida.

Sendo sincero, as rádios não tocavam músicas de artistas da minha geração, principalmente as de rap, os poucos veículos falavam raramente sobre o que fazíamos, nossos ídolos apareciam pouquíssimo, inclusive nos veículos de rap. Max B.O, Kamau, Parteum, SP Funk, Ascendência Mista, Lombriga e Gato Congelado, Quinto Andar, toda essa cena foi invisibilizada de alguma forma, então se eles que eram os tops não tinham o reconhecimento que achávamos que eles tinham que ter, então a gente achava que isso nunca chegaria para nóis também. Estávamos confortáveis no underground, era até uma moda se denominar underground. A Santa Cruz nasce como um lugar livre, onde você ou eu poderíamos chegar e rimar contra os melhores dali sem ter que se submeter a nenhum jabá, nenhum lobby e outras práticas abomináveis do mercado. Eu traço sempre um paralelo de que é muito parecido com o que acontecia com o partido alto — um segmento que era pouco valorizado e pós Martinho da Vila revolucionou tudo —, acho que aconteceu a mesma coisa com a música rap, graças à Santa Cruz. Olha o tanto de batalha que tem hoje no Brasil inteiro. O Emicida só está onde está por causa da Santa Cruz: se eu não tivesse ido naquele sábado à noite sozinho batalhar com aquele monte de desconhecido eu com certeza não estaria aqui.

Marcello Gugu

A batalha do Santa Cruz representa uma chance, uma oportunidade, uma grande forma de aprender. Representa, na prática, a essência do hip-hop. A união, a possibilidade de aprendizado mútuo e a troca de experiências. Considerada como a filha da São Bento, trás em sua constituição o sonho de centenas que ali passaram na tentativa de ser alguém dentro do mundo das batalhas. Nenhuma arena é livre da energia daqueles que ali batalharam. Quando a Afrika Kidz Crew (O coletivo que inventou a batalha e hoje tem como membros eu, Flow MC, MC Bitrinho e DJ Colorado, Jay P, Gah MC, Helibrown, Guilherme Treeze) criou a batalha, jamais, tínhamos consciência de que ela se tornaria um marco na história do hip-hop.

Simplesmente fizemos a batalha para criar um ponto de encontro para que pudéssemos encontrar pessoas do hip-hop interessadas em compartilhar conhecimento. Cada sábado era uma vitória, pois não sabíamos se iríamos conseguir fazer no sábado seguinte e hoje, dez anos depois, consigo enxergar que criamos, através de todos aqueles que colaram, um ambiente com uma energia extremamente criativa e que é capaz de continuar rendendo e revelando novos talentos, pela fé que colocamos ali naquela calçada.

Acredito que a Santa Cruz trouxe para o rap nacional a receita do “faça você mesmo” na prática, tanto que depois dela, surgiram centenas de batalhas espalhadas pelo país. Algumas estão completando seus tantos anos, algumas já não existem mais, mas o importante foi que graças a Santa, mostramos que era possível fazer e que era só acreditar naquilo que seria feito. Vimos a Santa Cruz crescer, amadurecer e com ela vários talentos.

Acredito que hip-hop é movimento e movimento gera energia. A batalha mostra isso. São palavras trocadas que movem emoções, sonhos, desejos e é exatamente isso que constitui aquele lugar. O apelido calçada sagrada não é à toa. A Santa Cruz está para o rap assim como a família Gracie está para o jiu jitsu, continuamos criando excelentes MCs, e, mais que isso, ali continuamos fomentando o desejo de nos melhorar como pessoas. Ali continuamos, dez anos depois, a aprender e ensinar, a trabalhar empatia, a se socializar e a se sensibilizar com as diferentes vivências que ali se cruzam. Mais do que uma grande vitrine de talentos, o Santa Cruz é e sempre será uma grande escola, cujas as portas estão abertas para todos aqueles que quiserem vivenciar o hip-hop em sua essência e o rap de improviso na prática.

Hadee (Somsujo)

Desde a São Bento não teve um núcleo de pessoas que fez tanto pelo rap e hip-hop que nem o Santa. Ele colocou nomes como Emicida, Projota, Rashid, Marcello Gugu, Amiri, o Primeiramente colava lá no começo deles, o Nocivo colou lá e também é velha escola do Santa Cruz. É o segundo berço, onde a gente pode continuar o legado que eles deixaram.

Se você for parar para analisar, se você pegar hoje 20 artistas de rap e que vivem disso, garanto que pelo menos metade da nova safra passou pelo Santa Cruz em algum momento de sua evolução musical.

Eu batalhei no Bocada Forte e fui pro Rio na Liga de MCs e Batalha do Real em 2005. Eu tinha outra impressão, achava que era um evento onde as pessoas iam e todo mundo assistia como se fosse um show. Lá no Santa Cruz eu vi que era bem menor e que era viável para eu fazer isso com os meus amigos. Daí saiu a ideia de fazer um núcleo em que as pessoas pudessem se encontrar, batalhar, tirar onda batalhando, mas não só isso. Eu queria que formasse um ponto de encontro de quem faz música, de quem faz rap e foi o que acabou acontecendo. Hoje muita gente vai no Santa Cruz pra conhecer pessoas, pra fazer contatos e não só pra assistir ou batalhar.

Eu me sinto muito realizado por ter conseguido fazer isso. Sempre que eu vejo alguém em ascensão que saiu do Santa Cruz, eu penso “porra, minha ideia deu certo, eu consegui propagar um pouco mais da cultura que me contaminou na minha adolescência e que eu chapei quando era mais novo”. Um dos meus maiores feitos pessoais é ter conseguido juntar pessoas pelo mesmo propósito todo sábado lá na Batalha do Santa Cruz.

De lá saem n projetos, já participei de n projetos de lá. O Santa tem esse peso na minha vida. Sabe aquela parada de “cresça, plante uma árvore, escreva um livro e faça um filho”? Eu encaro o Santa Cruz como uma parte disso aí. Já fiz um disco, que vale por um livro, não fiz um filho ainda, mas eu consegui fazer um núcleo de pessoas que faz algo pelo mundo, que produz música, produz conteúdo pro mundo e essa é a importância que o Santa tem.  

Rashid

A Batalha do Santa Cruz é mais um desses pontos chave que aparecem na história da arte de tempos em tempos. Acredito que tão crucial quanto foi a era da São Bento para as primeiras gerações do hip-hop, a Batalha do Santa Cruz foi para a minha geração, e continua sendo para as pessoas que vieram após e ainda virão. Boa parte dos novos grandes nomes do rap brasileiro passaram por lá, então acho que isso significa alguma coisa. Algo realmente muito especial acontece por lá.

Pra mim, o Santa foi a porta de entrada para a realização do sonho de ser MC. Minhas primeiras vitórias em batalhas, minha iniciação em apresentações para um público exigente e até minha consciência de que a leitura seria parte muito importante da minha construção de carreira vieram dali. Essa batalha foi uma grande vitrine para meu trabalho também, e um lugar onde fiz grandes amigos.

Lado a lado com a Rinhas dos MCs e a Central Acústica, a Batalha do Santa Cruz é um dos pontos mais marcantes da minhas vida.

Flow MC

A Batalha do Santa Cruz é um divisor de águas na cena do rap paulista. Em 2006, o freestyle começou a pipocar em Sampa. Eu, Marcello Gugu e Hadee comparecíamos aos encontros do site Bocada Forte e descobrimos que haviam muitos MCs espalhados pela cidade com os mesmos gostos e carências. Descobrimos que acompannhávamos a cena do Rio de Janeiro e a Batalha do Real e pensamos: ‘Por que não temos algo assim em São Paulo?”

O Shopping Santa Cruz já era um ponto de encontro de jovens, e pelo fácil acesso utilizamos o local como point da batalha.

Carecíamos desse contato para trocar infos com outros MCs, beatmakers e DJs, que apenas se encontravam nos eventos. Ocupamos um espaço utilizado apenas para passagem de pedestres, onde todos os finais de semana periodicamente poderíamos trocar ideias de graça na rua e automaticamente ajudando até vendedores ambulantes que colam lá até hoje. Sem saber geramos emprego e cultura gratuita. Descobrimos que existiam muito mais pessoas dessa nova geração freestyle espalhadas pela cidade do que imaginávamos. Incontáveis adolescentes que por ali passaram tiveram acesso à cultura quando poderiam estar em seus bairros muito próximos ao crime, à violência.

A batalha do Santa Cruz faz as pessoas se sentirem importantes, elas podem desabafar e  aprender muito mais sobre história e assuntos gerais do que no nosso ensino limitado nas escolas.

Por lá passaram alguns nomes como Emicida, Rashid, Projota, Drik Barbosa. Tem ainda o Marcello Gugu e eu, que fazemos parte da organização até hoje e também aprendemos muito por causa da Santa Cruz.

Hoje temos uma nova geração em nossa organização, porém todos do mesmo coletivo, o Afrika Kidz. O lance é que não dá mais para estar lá toda semana por conta das datas de shows que o Marcello, o Bitrinho e eu temos. Mas essa geração, porém, já é de filhos do Santa Cruz. MCs que se destacaram após a a “Golden Era Emicida, Rashid etc”. Alguns deles já estão viajando o Brasil fazendo rap.

Quando a Batalha do Santa Cruz é contratada para outros estados levamos os quatro campeões do mês para viajar, e muitos sequer haviam saído de São Paulo. Esse é outro fator determinante para o sucesso da batalha. Estamos há 10 anos salvando vidas e mostrando ao jovem outra ótica sobre a vida.

A história da Batalha fala por si só. Pra mim o que ela significa? Minha casa, minha meca.

Lenda ZN

Sou da primeira safra da Batalha do Santa Cruz. Éramos uns cinco rimando na rua, batalhando,  fazendo amizade, trocando conteúdo, música, estilo, informação e mais do que isso, estávamos solidificando mais um pilar de acesso cultural do nosso hip-hop. Tudo por amor, por amar, pois naquela época nem sonhávamos que era possível ganhar dinheiro com o rap.

A importância da Batalha do Santa para o rap é justamente a confraternização de mentes pensantes em busca de um mesmo ideal: se expressar. A Santa Cruz é realmente uma escola em que um dos maiores aprendizados é a socialização. Ela acolhe, te faz ser parte de algo maior,  te faz estar entre outras pessoas, de outras quebradas, com outras ideias e descobrir que ninguém é tão diferente assim. No fim das contas, fazer rima é só uma desculpa, uma exibição diante de todo aprendizado subliminar que ali existe.

Pra mim a Santa Cruz foi mais um ponto sólido para nós que não tínhamos tantas perspectivas de ganhos. Venho da safra de MCs da Galeria Olido e Microfone aberto da Central Acústica, aos 15/16 anos. Com 16/17 a Santa Cruz virou minha casa, o lugar onde eu estudava sobre história, conhecia outras músicas, outras  pessoas, fazia parcerias que hoje valem muito. Hoje tenho em minha mente que a Batalha do Santa Cruz é passagem obrigatória pra qualquer um que se interesse por hip-hop.

Drik Barbosa

A importância da Batalha do Santa Cruz pro rap é imensa, imensa. Mas eu acho que não tem como eu falar disso sem misturar com a importância que ela tem pra mim. Foi a porta que se abriu para eu conhecer o hip-hop. Eu ouvia na rádio por influência dos meus tios, mas eu não entendia o que era o rap, a força por trás do movimento e o quanto ia mudar a minha vida conhecer aquele lugar.

Na primeira vez que fui foi no final de 2006, quando cheguei lá tinham poucas pessoas, fui com um vizinho (que fazia beat box pros caras), meu primo e mais um amigo que hoje fazem música também por conta da Batalha do Santa Cruz. Já tava lá o Marcello Gugu, eu lembro de ver o Tuchê e mais uma galera.

Fui uma vez, duas, mas eu era muito nova, tava ainda com 14 anos e minha mãe ficava meio preocupada, porque apesar de ser perto de casa era o maior breu pra voltar. Mas em 2007 eu comecei a ir sempre e já tinha uma outra galera, já tinha mais gente e fui conhecendo todo mundo.

Eu cantava em casa, mas não me sentia segura para mostrar isso. Foi na Batalha do Santa Cruz que eu quis mostrar, foi lá que eu aprendi a fazer freestyle e comecei a fazer isso cantando, meio ragga e surgiram os primeiros convites. A Batalha do Santa Cruz me abriu uma porta imensa, foi lá que eu descobri que ia viver de música, ia fazer rap, que ia falar da minha realidade. Eu me sinto livre.

Eu sou eternamente grata pela Batalha do Santa Cruz e com certeza se não fosse ela hoje eu não estaria vivendo de música, da minha música. Eu vou lá, quando eu posso, ver o pessoal novo que tá chegando. Eu me vejo neles de quando eu colava com 15 anos. Se não fosse a Batalha eu não sei se existiria a Drik Barbosa. Vida longa à Batalha do Santa Cruz.

Batalhar mesmo eu só batalhei umas duas vezes, eu fazia isso mais pra zoar, mas é importante falar isso para que as pessoas entendam que eu sou um fruto da Batalha do Santa Cruz, eu renasci ali.

Mamuti

O Santa Cruz é mais que a mais clássica batalha de São Paulo, é a que se mantém há mais tempo e foi ponto de encontro de grandes nomes da cena atual do rap paulista.

É uma escola. É um lugar onde as pessoas se encontram não só pra rimar, mas pra trocar conhecimento, ouvir sobre a cultura. Fazendo analogia de freestyle com a vida… O Santa é o lugar onde você aprende a correr depois de ter dado os primeiros passos em casa. É uma espécie de incubadora que matura MCs pros próximos passos.

Pessoalmente, o Santa foi o meu ponto de partida. Quando eu comecei a frequentar religiosamente, eu não conhecia ninguém, eu ia sozinho, voltava sozinho. E lá conheci pessoas, que me apresentaram pra pessoas, que me apresentaram pra outras pessoas… E por aí. Eu conheci toda a cena paulistana/paulista do rap e do hip-hop.

Também foi uma base pra aprimorar habilidades, pois lá encontrava os melhores MCs da época semanalmente. Pra rimar junto e contra. Foi importante também para lidar com o público no “cara a cara”. A roda trouxe amadurecimento pra minha presença como MC, tanto numa roda quanto no palco, a base que adquiri no Santa foi essencial pra que eu chegasse preparado em batalhas maiores. Costumo dizer que o Santa foi minha escola e a Rinha minha faculdade (pelo clima e cobrança da plateia da rinha naquela época).

Bitrinho

A Batalha do Santa Cruz foi uma nova São Bento, ela descobriu novos artistas, deu bastante espaço pra muita gente, vinda de muitos lugares diferentes, e que não tinha espaço. Ali não existem diferenças, só talento. E esse talento pode ser demonstrado por qualquer um. Quantos MCs bons já saíram de lá? Quantos estão saindo? E quantos ainda vão sair se Deus quiser?

Pra minha vida ela foi um marco. Depois dela eu consegui ver muita coisa diferente .Eu fazia rap, mas não via nada profissional, não via isso como uma profissão e a Batalha do Santa Cruz me deu essa responsabilidade, porque eu tava bem novo ali vendo os moleques correndo e vendo que não é só lírica, tem a parte burocrática, tem a parte resposável e isso agregou muito à minha vida.

Eu tô há nove anos, sou o último do coletivo a entrar, e me lembro de quando eu era molecão tando com os caras no rolê, indo viajar com os caras, mas tudo de forma bem responsável.

Como não tem classificação de idade para ir, dá pra colar qualquer um. Então, o mesmo cara que tá batalhando com um moleque que mora numa favela muito distante pode morar num bairro melhor, vir de outra situação.

TVS (Comes e Raps)

O Santa Cruz pro rap é um marco de resistência, é um ponto de encontro de pessoas que gostam das mesmas coisas e eu acho que serve como uma escola também. Eu, por exemplo, quando comecei a colar lá em 2008, fazia beat box, não conhecia ninguém. Foi meio por acaso, um camarada me deu um salve pra colar e eu nem tinha tanto envolvimento com o rap naquela época, eu tava começando a conhecer algumas coisas, comecei a ver as batalhas do Emicida no YouTube.

Quando eu fui pela primeira vez fui muito bem recebido e eu vi que tinham pessoas que gostavam das mesmas coisas que eu, então pra mim ir ao Santa Cruz é conhecer pessoas que fazem parte da cultura hip-hop. A grande maioria é de MCs, mas muitas vezes colam b-boys, DJs, grafiteiros.

Acho que ter um ponto fixo semanal desde 2006 para que as pessoas consigam se encontrar é muito importante. Hoje tem batalhas todos os dias da semana, às vezes mais de uma, algumas vezes até na mesma região, mas antigamente era só o Santa Cruz, a Rinha e algumas outras batalhas mais esporádicas, mas em geral todo mundo se concentrava pra ir no Santa Cruz, aprender com as outras pessoas, enxergar as outras pessoas fazendo a mesma coisa que você, trocar informações, experiências.

Pra mim foi um importante crescimento como pessoa e como artista, porque muito do que eu aprendi foi dentro do Santa Cruz. Eu comecei indo lá apenas como beatboxer, eu vi os moleques rimarem e achava sensacional. O primeiro freestyle que eu vi foi do Mamuti, que faz comigo o Comes e Raps, e achei sensacional, mas eu achava uma parada impossível de fazer. Ver os moleques rimarem no Santa Cruz fez com que eu começasse a rimar em casa e posteriormente na rua. Então, isso pra mim foi um crescimento absurdo, porque foi aí que eu comecei a me expressar pela música, pelo freestyle.

Lá eu conheci pessoas que me mostraram coisas e todo esse conhecimento compartilhado, toda essa resistência que tem na rua é muito importante para mostrar que o hip-hop consegue mudar vidas, mesmo que seja através de uma batalha. Ele mudou a minha..

Kauan de Castro

A maior importância da Batalha do Santa Cruz para o rap foi a divulgação de talentos. Boa parte dos moleques do cenário atual, e até de um cenário não atual assim, começaram lá. Emicida, os moleques do Primeiramente, Rashid.

Pra mim foi importante, porque eu conheci o rap na Batalha do Santa Cruz. Se não fosse a Batalha talvez eu estivesse trampando numa empresa hoje. Ela é um marco muito importante para o rap de São Paulo e expandiu de um jeito inimaginável, tanto que hoje você vai à esquina da tua casa e você vê uma batalha de MCs.

Relembrando: fique ligado nas redes sociais da VICE Brasil e Noisey Brasil nesta sexta (30) para ver a íntegra do documentário Batalha do Sta. Cruz em 360°.