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O OnlyFans limitou quanto dinheiro os trabalhadores sexuais podem ganhar sem nenhum aviso

Vários trabalhadores sexuais disseram a VICE News que acreditam que a conta no OnlyFans de Bella Thorne levou a essas mudanças, mas o site nega.
OnlyFans adult content creators TS Jane and Rebecca Madison
TS Jane (esquerda) e Rebecca Madison (direita) são criadoras de conteúdo no OnlyFans. Fotos cortesia de TS Jane e Rebecca Madison.

Trabalhadores sexuais estão falando contra o OnlyFans depois que o site introduziu novas regras que limitam quanto criadores de conteúdo podem ganhar.

Segundo vários trabalhadores sexuais, o site colocou um teto para as taxas de pay-per-view para $50 para foto ou vídeo, e as gorjetas não podem exceder $100. Nenhum dos trabalhadores sexuais que a VICE News entrevistou recebeu aviso das mudanças do OnlyFans antes delas serem implementadas.

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Alguns alegam que o site também instituiu uma data de pagamento de 30 dias, significando que os criadores podem ter que esperar um mês para transferir o dinheiro do site para suas contas bancárias. O OnlyFans não respondeu nossos pedidos de comentário.

As notícias mostram como trabalhadores sexuais que dependem de plataformas de tecnologia podem ter sua renda seriamente afetada por mudanças nas políticas de uso, com pouco ou nenhum aviso.

Muitos acreditam que os novos limites estão relacionados com a nova conta da atriz Bella Thorne, mas o OnlyFans negou que as mudanças foram desencadeadas por qualquer usuário da plataforma numa declaração para a Rolling Stone. Na terça-feira passada, saiu a notícia que a ex-estrela do Disney Channel ganhou $2 milhões depois de usar o OnlyFans por menos de uma semana.

No sábado, Thorne publicou um pedido de desculpas para os trabalhadores sexuais, em resposta a alegações de que ela teria arruinado o OnlyFans. “Sou um rosto mainstream e quando você tem uma voz, uma plataforma, você tenta usar isso para ajudar os outros e defender algo maior que você. E nesse processo, prejudiquei vocês e peço desculpas”, disse Thorne. Ela acrescentou que planeja se encontrar com a diretoria do OnlyFans para discutir as mudanças recentes, dizendo que eles “foderam com tudo”. 

Na declaração para a Rolling Stone, um porta-voz do OnlyFans disse: “Os limites de transações foram estabelecidos para evitar gasto excessivo e permitir que nossos usuários continuem a usar o site com segurança. Valorizamos todo o feedback recebido desde que as mudanças foram implementadas e vamos continuar a revisar esses limites”.

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Em maio, o OnlyFans também removeu o bônus vitalício de indicação, limitando o tempo que os produtores recebem comissão por indicar um novo criador para um ano, o que afetou seriamente a renda de produtores de conteúdo.

Thorne foi muito criticada por trabalhadores sexuais, muitos dizendo que o privilégio dela como uma celebridade branca e cisgênero provavelmente deu a ela uma visão distorcida de quanto trabalho é realmente preciso para manter uma conta lucrativa no OnlyFans.

“Ela fodeu com a gente”, disse TS Jane, uma trabalhadora transsexual da Califórnia e presidente da Sex Workers Outreach Project. “É privilégio… tomar um espaço que deveria ser de pessoas não-brancas, pessoas trans e trabalhadores sexuais.”

Trabalhadores sexuais também criticaram o pedido de desculpa de Thorne. 

“Não precisamos do seu rosto mainstream para ‘chamar atenção’ para o nosso trabalho. Você quer realmente ajudar trabalhadores sexuais? Coloque dinheiro no bolso dos trabalhadores sexuais”, tuitou a fundadora do BIPOC Adult Industry Collective Sinammon Love.

Por que a desculpa de Bella Thorne só serve para cobrir a própria bunda dela e por que ela não se importa com ninguém da nossa comunidade, segue o fio:

Nenhum trabalhador sexual que conheço quer que celebridades defendam nossa comunidade no OF, declaramos várias vezes como isso é um desrespeito e não ajuda nossas circunstâncias/comunidade.

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Os novos limites de preço no site podem ter um grande impacto na renda dos criadores. TS Jane disse que antes da mudança, ela recebia gorjetas de até $1 mil — bem mais que o novo limite.

A trabalhadora sexual canadense Rebecca Madison disse a VICE News que ela também recebia gorjetas bem maiores que $100. Ela disse que o OnlyFans não a avisou das mudanças repentinas.

Madison disse que se preocupa que criadores de conteúdo adulto não vão conseguir arcar com perder tanto dinheiro. Antes, criadores podiam cobrar qualquer coisa entre $3 a $200 por foto ou vídeo, geralmente aumentando o preço com base no tipo de conteúdo e número de inscritos pagando por ele, ela disse.

“Temo que alguns trabalhadores sexuais vão começar a vender conteúdo a preços mais baixos do que se sentem confortáveis por causa dessas novas pressões financeiras”, disse Madison.

“Pode ser uma brincadeira divertida para Bella, mas esse é o nosso trabalho. É a nossa vida. É assim que pagamos o aluguel e compramos comida”, disse Madison, que tinha um trabalho mainstream antes da pandemia. “Quando a pandemia aconteceu, o OnlyFans se tornou minha principal fonte de renda.”

Bella Thorne realmente estragou uma coisa boa para pessoas que realmente usam o onlyfans para ganhar a vida e pagar as contas.

A escort e cam model de L.A. Lasha Lane disse que ficou “chocada” ao descobrir os novos limites de preço do OnlyFans. Lane disse que está no site há apenas seis meses, mas que se preocupa com os criadores que passaram anos construindo suas plataformas.

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“Meus fãs não pagam tanto porque eles têm 19, 22, 25 anos, e tudo bem pra mim”, disse Lane. Mas Lane reconhece que criadores mais estabelecidos do OnlyFans dependem do site para sua renda mensal.

Para Lane, é dever do OnlyFans reconhecer a renda e tráfego que os trabalhadores sexuais trazem para o site.

O OnlyFans fica com 20% de tudo que os criadores ganham. TS Jane disse que recentemente atingiu o marco de $100 mil com o site, o que significa que $20 mil foram direto para a companhia.

Considerando a natureza fisicamente íntima do trabalho, trabalhadores sexuais estão sendo afetados desproporcionalmente pela pandemia, com poucos se qualificando para receber ajuda do governo.

O OnlyFans ajudou muito trabalhadores que atuavam pessoalmente a trabalhar online, podendo limitar contato físico e ainda se sustentar. Quando famosos como Thorne entram para a plataforma, trabalhadores sexuais dizem que isso aumenta injustamente a competição no site, o que ameaça suas rendas.

Mas começar um OnlyFans exige muito trabalho. Criadores de conteúdo precisam fazer o próprio marketing, criação de conteúdo e muitas vezes trabalham mais horas que em outros empregos. Eles também apoiam os clientes emocionalmente, como Taylor Stevens disse a VICE News em abril.

Se trabalhadores sexuais que dependem do OnlyFans forem obrigados a procurar renda fora da plataforma, eles podem se colocar em situações perigosas também, disse TS Jane, especialmente considerando que EUA (e Canadá) criminalizam o trabalho sexual, o que empurra a indústria para a marginalidade.

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“Muitos trabalhadores sexuais terão que começar a trabalhar nas ruas, o que coloca a vida deles em risco”, disse TS Jane. “Me sinto empoderada pelo que faço; posso colocar meus próprios preços, criar o que quero, sou minha própria chefe.”

O sonho dela é ver uma plataforma para trabalhadores sexuais feita por trabalhadores sexuais.

“Trabalhadores sexuais são resilientes e vamos encontrar outra plataforma”, disse TS Jane. 

Os representantes de Thorne não responderam nossos pedidos de comentário, mas Thorne, 22 anos, disse a Paper semana passada que fez uma conta no OnlyFans como um jeito de “controlar totalmente” sua imagem, “sem julgamento, e sem sofrer bullying online por ser eu mesma”. A revista também informou que Thorne estava negociando para estrelar um documentário sobre suas experiências no OnlyFans.

Thorne já dirigiu um curta pornográfico, Her and Him, que rendeu a ela um dos prêmios mais importantes do Pornhub em 2019. Uma associação sem fins lucrativos da indústria de pornografia e entretenimento adulto dos EUA, a Free Speech Coalition, disse: “É muito irritante ver diretores que trabalham duro na economia pornô há anos — às vezes décadas — serem preteridos por alguém que está apenas alguns passos adiante no alfabeto das celebridades”.

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