Esta matéria faz parte da nossa série especial pra Semana do Orgulho 2018.Sair do armário não é fácil pra ninguém, seja qual for a idade. Apesar da aflição extrema de ter que esconder quem você é para as pessoas que você ama, o medo de ser rejeitado pela sua sexualidade ou identidade de gênero acaba falando mais alto. Especialmente porque ainda não é incomum ouvir até hoje casos de pessoas que se revelaram e foram expulsas de casas ou excluídas na roda de amigos ou pelos parentes.
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Mais complicado ainda talvez seja contar para seu filho ou filha. Pensando nisso, pedimos para pais e mães relembrarem como foi quebrar a barreira do medo e contar para os filhos que são gays, lésbicas ou trans.Eu sou homem trans e tenho uma filha de seis anos. Junto com o outro pai e a família dele estamos fazendo um trabalho para acostumá-la a me chamar de pai. A Charlotte já consegue entender que sou um "menino", estou achando ótimo. A gente tá vendo uma psicóloga para ela e sempre corrigimos a avó que ainda me chama de mãe – mas não por mal.
Minha filha já me chama de pai de vez em quando e está começando a ter mais noção que ela tem não um pai e uma mãe, mas sim dois pais. É tudo bem devagar com ela, mas desde que me revelei “um menino”, ela aceitou, sendo a fofa que é.
Sascha Benji Lutterbach Erthal, 31 anos, tatuador
"A mãe dela é um menino"
Ela só fala e vê que "a mãe dela é um menino", e vê questões de gênero ainda sem nenhuma opinião. Sou separado do pai, o João, há muito tempo, mas ele é meu amigo e agora estamos nos esforçando para a Charlotte me chamar de pai. E no colégio dela tem o "Dia da Família", porque muitos alunos e alunas tem dois pais, duas mães e eu sou o primeiro caso de pai trans na escola. Apesar de ser um colégio católico, eles fazem de tudo para normalizar essas histórias. Por isso que eles fazem um dia da família e não um dia dos Pais ou das Mães.
Tive alguns problemas durante a gravidez da Lotte e inclusive depressão pós-parto, mas não tenho nenhum problema em ser pai. Nunca tive medo de prejudicar minha filha, porque não estou fazendo nada de errado de ser quem eu sou.
Minha dica para pais que estão na mesma situação que a minha ou que pensam em abrir o jogo é: vão com calma e tenham paciência. Seus filhos, se forem mais novos, vão entender mais rápido, e se acostumar, mas leva tempo e dedicação. Sempre tenham a acompanhamento psicológico para eles, porque é algo bem forte para a psiquê da criança/adolescente e mesmo de um adulto. Mas de resto, seja você mesmo e honestidade acima de tudo.
Sascha Benji Lutterbach Erthal, 31 anos, tatuador
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Assista à playlist de documentários Semana do Orgulho 2018 curada pelo nosso canal no YouTube.
“Abrir o jogo com o meu filho não me causou medo algum”
Michelle, 37 anos, designer de festas afetivas
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“Ninguém nunca havia ensinado o conceito burro de que é errado ser homossexual”
Leo Martinez, 30 anos, gerente de hotel
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“Mostre que o amor é saudável em qualquer situação”
Erica Nogueira, 37 anos, dona de casa
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Meu pai me contou que é gay
Depois que ele me contou, o namoro com esse cara não deu certo, mas um tempo depois ele começou a namorar o Ive. O Ive foi meu padrasto por 21 anos e pessoa que amo muito mais do que a maior parte dos meus parentes. A separação entre eles foi (e está sendo) uma merda, super dolorida. Para fechar o luto, eu e meu pai vamos viajar na semana que vem, só nós dois, pro Marrocos. Acho que dá uma ideia de quão próxima é nossa relação.O curioso é que meus irmãos hoje obviamente sabem, e adoram o Ive, que é inclusive padrinho do meu sobrinho mais velho, agora com 19 anos. Meu pai nunca teve uma conversa franca com um dos meus irmãos (que é militante de esquerda, tem 200 amigos gays, convive com trans de todo tipo, mas nunca conseguiu falar abertamente com meu pai – e vice-versa, vai saber por quê).Meu pai hoje tem 67 anos e é médico sanitarista. Nossa família é do interior de São Paulo e libanesa, bastante conservadora. Qualquer indício de manifestação de ser gay que ele pudesse ter na infância/ adolescência foi banida com violência. Por isso, ele só fez o movimento quando saiu de casa, e demorou pra perceber. Antes disso teve três filhos com a minha mãe, que foi uma pessoa muito maravilhosa diante da situação, o que ajudou bastante. Porém, ele só foi assumir pra família depois que meu avô (o patriarca libanês) morreu.
Ana Lima Cecilio, 40 anos, editora de livrosSiga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.