Por que os membros da Kombat RAC não foram presos?

Foto: Reprodução/R7.

No começo de 2017, a foto de quatro marmanjos (um deles menor de idade) tatuados e longe de carregarem o fenótipo que tanto exaltam os supremacistas brancos circulou na internet após ser noticiada pelo portal do R7. Os quatros integram uma gangue neonazista chamada Kombat RAC e foram detidos no metrô Anhangabaú, em São Paulo, no dia 4 de janeiro a caminho de uma briga com um grupo de punk rival. Junto a eles, foram encontrados cartazes com dizeres antissemitas, além de facas e machados. Todos foram liberados após prestarem depoimentos.

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Antes do evento do metrô, a gangue já tinha colocado as asinhas de fora algumas vezes nas ruas do centro de São Paulo espalhando cartazes antissemitas na Rua Augusta. O rabino Moré Ventura, inconformado com os cartazes, postou um vídeo no seu Facebook questionando a intolerância do grupo. Em resposta, os nazistas gravaram um vídeo nomeando o Rabino e gritando “Fora Judeu” na Rua Augusta. Em entrevista à VICE, o rabino relatou que também recebeu ameaças pelo Whatsapp após a divulgação do vídeo. Foi o suficiente para a Confederação Israelista entrar com uma denúncia contra o grupo neonazista.

A denúncia surtiu efeito e no dia 13 de janeiro quando foram realizadas busca e apreensões na casa dos membros. Mais uma vez foram apreendidas mais armas brancas, cartazes e camisetas com símbolos nazistas e com o nome da gangue. Os membros Wesley André Muniz da Silva, 24, Altieres Paulo Cassemiro e um adolescente de 15 anos acompanhado do pai também prestaram depoimento na delegacia e foram liberados em seguida, exceto Guilherme Jácullo Evangelista de 26 anos, vulgo “Caramelo”, que não foi encontrado em sua residência.

Um dos vários cartazes apreendidos na residência de um dos nazistas. Foto: Reprodução/R7.

Foi feito um pedido de prisão temporária contra os suspeitos, que acabou negado pelo juiz de primeira instância que analisou o pedido. A soltura gerou revolta, visto que há anos a gangue atormenta as ruas de São Paulo.

De acordo com a advogada criminalista Carolina Oliveira, a soltura dos membros não é algo tão estranho juridicamente. “A prisão temporária é uma prisão para investigação. De acordo com o que foi noticiado, já foram realizados os atos de investigação como busca a preensões na casa dos suspeitos, que também foram encaminhados para serem ouvidos”, explica.

A prisão temporária é válida quando forem respeitados os requisitos elencados na Lei 7.960/89 que regulamente essa modalidade de prisão como falta de residência fixa ou elementos que identifiquem a identidade do suspeito, quando a prisão for imprescindível para o inquérito policial e também quando há elementos de autoria em crimes como extorsão mediante sequestro, quadrilha ou bando, genocídio, roubo, atentado violento ao pudor, estupro, tráfico de drogas entre outros. No caso dos neonazistas, não procede o pedido de prisão temporária.

“Se os envolvidos estiverem ainda ameaçando a vítima, por exemplo, caberia uma medida cautelar”, diz a advogada. Até o momento, não foram divulgados os crimes imputados à gangue, mas a suspeita é que eles serão processados pelo crime de racismo e associação criminosa.

Jácullo (centro) em uma manifestação pró-Bolsonaro em 2011. Foto via.

A Kombat RAC costuma, ainda que esporadicamente, dar as caras à internet. Guilherme Jácullo Evangelista, apontado como líder, já espancou e roubou um garçom em 2008 no bairro do Heliópolis junto com mais duas pessoas e estava presente na manifestação pró-Bolsonaro em 2011 ao lado de outros grupos fascistas.

Alguns vídeos da Kombat RAC ainda estão no ar no Youtube. É um grupo relativamente antigo que parece encontrar um ambiente propício no momento para se manifestar novamente no país. O jeito é aguardar o avanço das investigações e a prisão dos neonazistas que, tristemente, recorrem à violência para maquiar a intolerância contra si mesmos.

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