‘Zumbis’ da Flakka Estão Assustando a Polícia dos EUA

Um vídeo feito pelas câmeras dos uniformes de dois policiais do sul de Illinois no mês passado mostra um homem nu, supostamente sob influência da droga flakka, destruindo violentamente sua casa, virando os móveis, batendo nas paredes, gritando e recusando as tentativas da polícia de acalmá-lo.

Os policiais usaram armas de choque para tentar controlar Stephen Berkeley, de 51 anos. Segundo William Southerd, chefe de polícia de Christopher, Illinois, como o homem estava “delirando” por causa da droga – os sintomas incluem agitação, ansiedade, alta temperatura corporal e alucinações –, os agentes tiveram de pedir assistência médica.

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Mas era tarde demais. Berkeley morreu de overdose. Uma investigação na cena apontou as marcas no corpo da vítima e nos dois oficiais no local. Para Southerd, isso atesta que a morte pareceria suspeita se não fosse pelas câmeras nos uniformes deles mostrando o surto de Berkeley.

“Esse vídeo é algo que nunca vi antes”, disse o chefe de polícia. “O homem estava enlouquecido, batendo nas paredes, virando coisas. Ele destruiu o lugar e, assim que foi controlado, acabou morrendo.”

“Se não fosse pelas câmeras dos policiais, eles provavelmente estariam presos agora”, ele acrescentou. “Mesmo nossos especialistas forenses disseram que encontraram a cena completamente revirada e escoriações por todo o corpo do morto. Eu não saberia como lidar com isso.”

Southerd não quis compartilhar o vídeo com a VICE, citando questões de privacidade relacionadas à família de Berkeley, mas espera poder liberá-lo e usá-lo como ferramenta educacional para alertar as autoridades sobre o que ele diz ser a ameaça crescente da flakka, descrita por ele como “sais de banhos com esteroides”.

Flakka é um tipo sintético de catinona, assim como os sais de banho. Na certidão de óbito liberada pelo legista do Condado de Franklin, a morte da vítima foi classificada como “overdose por sais de banho”, mostrando a confusão que as autoridades enfrentam atualmente para determinar que novas drogas eles têm verificado em suas comunidades, já que os fabricantes estão sempre mudando as composições químicas. O legista não respondeu às perguntas da VICE sobre quais drogas, exatamente, foram encontradas no corpo de Berkeley.

“A melhor maneira como posso descrever isso, nos termos usados pelos meus oficiais, é que você está lidando com zumbis. Eles ficam completamente fora de seu juízo normal.”

Southerd afirmou que sais de banho e maconha sintética – outra droga com composição química sempre em mutação – são vistos em Christopher há alguns anos. Flakka apareceu dois meses atrás, e ele está preocupado com o que tem visto. Seu primeiro encontro com alguém sob influência da droga, segundo ele, foi com uma mulher que saiu para seu jardim e começou a esfaquear “as árvores e o ar, como se estivesse vendo fantasmas”.

“Maconha sintética é um problema há dois anos aqui, e Illinois está num jogo de pega-pega agora. Toda vez que eles proíbem algum ingrediente, os chineses – é de lá que isso vem – já têm outro ingrediente análogo para substituir isso”, frisou Southerd.

“Isso é pior que heroína, metanfetamina, tudo”, ele continuou. “A melhor maneira como posso descrever isso, nos termos usados pelos meus oficiais, é que você está lidando com zumbis. Eles ficam completamente fora de seu juízo normal.”

Uma mulher, supostamente sob influência de flakka, surta no meio de uma avenida movimentada (via YouTube).

Flakka é o nome popular da alfa-pirrolidinopentiofenona (alfa-PVP). De acordo com o National Institute on Drug Abuse, ela é produzida principalmente na China e distribuída nos EUA por US$ 3 a US$ 5 a dose. Diferentemente da maconha sintética, a flakka vem em forma de cristais que podem ser cheirados, injetados, vaporizados ou ingeridos, informa o instituto.

O epicentro do uso de flakka é o Condado de Broward, Flórida, que teve 477 casos registrados de uso da droga em 2014. Mas a droga já começou a se espalhar por outras comunidades rurais e cidades pequenas norte-americanas. Segundo o DEA, Geórgia, Virgínia Ocidental, Pensilvânia, Illinois e Ohio tiveram altas na taxa de consumo de flakka em 2013.

Paul Faulk, o diretor do Centro de Recuperação de Vícios do Condado de Broward, tem testemunhado a explosão da droga em primeira mão.

“Começamos a ver flakka em setembro de 2014 e não sabíamos o que era aquilo, porém vimos algo diferente nos pacientes que estavam chegando”, Faulk contou à VICE.

Faulk destacou que, atualmente, o número de usuários dando entrada na clínica pulou de um, em setembro de 2014, para 40 ou 50 por mês. Em maio, ele se juntou à polícia local e a grupos comunitários numa entrevista coletiva para alertar os usuários sobre a flakka.

“Isso está drenando os recursos da nossa organização. Eles se comportam de uma maneira que nunca vimos antes: muito mais agressivos, paranoicos e ansiosos, o que dificulta muito o tratamento”, ele lamentou.

Faulk frisou que não há um modo rápido de desintoxicar usuários de flakka – a não ser sedá-los até que “voltem à realidade”. E, às vezes, isso pode levar 30 dias ou mais.

“Mesmo depois desse período de 30 dias, eles ainda exibem sintomas da droga no cérebro ou corpo”, ele disse. “Colegas dizem que estão vendo comportamento errático na comunidade quatro ou seis meses depois. Tudo depende do uso. E o delírio acontece basicamente porque o corpo está morrendo – a menos que haja uma intervenção médica.”

“Estamos tentando proteger nossos jovens porque eles são o alvo da droga agora”, reiterou Faulk, já que, além de barata, ela parece um doce e geralmente é introduzida aos jovens junto com outras drogas.

“As pessoas só querem experimentar maconha ou acham que estão usando molly (ecstasy), mas estão tomando flakka”, ele alertou. “É algo altamente viciante; por isso, traficantes misturam isso a outras drogas. Isso produz um barato extremamente forte, é muito viciante, e muitas vítimas dizem que a abstinência é como nenhuma outra.”

Quase todos os 50 estados norte-americanos têm alguma proibição de catinonas sintéticas, segundo o DEA, embora mudanças na composição sejam usadas para contornar as leis.

Pesquisador de saúde e uso de drogas do Centro Médico da Universidade de Nova York, Joseph Palamar disse desconfiar que a cobertura da mídia sobre a flakka, que mostra as pessoas ficando violentas e fora de controle, seja exagerada.

“Acho que a mídia está focando os casos mais graves envolvendo flakka”, ele comentou. “Assim como a maconha sintética, eles estão mostrando casos muito estranhos; então, o público pensa que quem usa flakka fica louco, quebra coisas e ataca pessoas. Mas eles estão focando apenas os casos raros”, Palamar falou à VICE. “Tenho certeza de que milhares de pessoas usam flakka e não invadem uma delegacia de polícia.”

Palamar apontou que os indivíduos que perdem o controle sob a influência de flakka podem já ter problemas psicológicos, usar remédios psiquiátricos ou ser viciados em outras drogas como metanfetamina. No entanto, para outros, usar drogas sintéticas como a flakka, que imita os efeitos estimulantes da metanfetamina, pode produzir um efeito “como o de um Adderall potente” – e sem causar um ataque violento.

Porém, para Southerd e Faulk, que estão trabalhando para combater o uso da flakka no epicentro da droga, um ataque violento já é o suficiente.

“Quando a metanfetamina chegou, isso destruiu a vida de muitas pessoas, mas isso é pior”, opinou Southerd. “É tão viciante, tão fácil de conseguir e tão novo que muitas agências da lei e promotorias do sul de Illinois não sabem como combater isso; logo, tem gente fazendo muito dinheiro. Isso é muito frustrante.”

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Tradução: Marina Schnoor